Lobo-japonês
O lobo-de-honshu ou lobo-japonês (Canis lupus hodophilax) foi um pequeno lobo de cor parda que habitava em zonas montanhosas da ilha japonesa de Honshu.
A sua extinção deve-se a uma combinação da introdução de raiva e irradicação orquestrada. Até a Era Tokugawa, os lobos eram venerados no Japão, já que mantinham animais herbívoros como cervos afastados das colheitas. Porém a partir da Era Meiji, o governo passou a promover um novo tipo de agricultura, baseada nos ranchos ao estilo estadunidense. Isto levou a muitos conflitos entre lobos e fazendeiros, já que os lobos passaram a atacar o gado. Assim os fazendeiros passaram a matar os lobos, valendo-se de expedientes tais como envenenamento por estricnina e armadilhas de ferro, além de oferecerem recompensas. O último exemplar conhecido morreu em 1905.
Na cultura japonesa os lobos eram animais bastante venerados. Isso nota-se nos fonemas e na foram de escrita usados pelo povo japonês ao se referir a este animal, ookami (grande-deus, 大神). A língua e escrita japonesas tem suas particularidades, a língua falada é de origem desconhecida e não se assemelha a nenhuma outra língua asiática, tais como o coreano e as línguas da família sino-tibetanas, porém a escrita teve fortíssima influência chinesa. A palavra “ookami” deve ser muito antiga, usada muito antes da introdução da forma de escrita chinesa. O kanji chinês para se referir a lobo é “狼”, a leitura em onyomi (leitura chinesa) é “rou” (ロウ), a leitura em kunyomi (leitura em japonês) é “Ookami” (おおかみ). Vejamos agora se a palavra “ookami” fosse escrita com o kanji “grande” (大) que se pode pronunciar “oo” (おお), mais o kanji “deus” (神) que se pode pronunciar “kami” (かみ), a pronuncia ficaria igualmente “ookami” (おおかみ), ou “oogami” (おおがみ), sem prejuízo a pronúncia de origem japonesa*. Outra curiosidade é o que acontece se desmontarmos e interpretarmos os radicais do ideograma chinês que representa lobo (狼) em separado, teremos dois kanjis, um deles é o kanji de cão (尤, radical - 犭), o outro é o kanji que representa o adjetivo bom (良), ou seja, na escrita chinesa o lobo era o “cão-bom”. Estes exemplos, tanto da escrita como da palavra, nos faz crer que no passado estes animais eram bastante veneredos, tratados quase como deuses. Os lobos também eram chamados de “cães-da-montanha” (yama-inu, 山尤).
As montanhas sempre foram consideradas sagradas para o povo japonês, inclusive se erguem templos aos pés das montanhas em veneração ao deus (Kami, 神) que habitava nela. Os lobos eram animais que viviam nas regiões montanhosas e como habitantes das mesmas, também eram animais sagrados, e as vezes, considerados o próprio espirito da montanha (yama no kami, 山の神) ou o deus-verdadeiro (真神). Eram os guardiões sagrados que cuidavam e vigiavam as montanhas, suas florestas, e seus habitantes, assim como os cães domésticos cuidam dos homens e de suas aldeias.
Ao contrário do que se vê com as raposas (kitsunis) e os teshugus (tanukis), os lobos são animais nobres, benignos, protetores dos homens, muito justos, eles eram um “girigatai” (alguém com forte senso de dever). O lobo as vezes deixava ao homem o resto de sua caça de presente, o “inu’otoshi” ou “inutaoshi” (presa do cachorro), porém o homem para leva-la deveria deixar algo em troca, caso o contrário a relação harmoniosa homem-lobo seria quebrada e surgiria a “ada” (inimizade para com os humanos).
Há muitas lendas japonesas que contam o quanto estes animais são bons e dignos. Diz-se na lenda “okuri-okami” que quando um homem atravessa uma floresta, um lobo o acompanha durante todo o percurso só o deixando quando estava perto da cidade**. A companhia do lobo durante uma jornada era vista como uma proteção ao viajante. Outras lendas contam de pessoas que obtiveram a longevidade ao beber o leite da loba quando crianças. Assim como na lenda indiana do menino lobo (Mowgli), há lendas japonesas de crianças que foram adotadas e criadas por lobos. As mães camponesas usavam amuletos com forma de lobos para invocar proteção para o espírito dos filhos pequenos falecidos, e para que o lobo preserve seus restos mortais da curiosidade dos animais da floresta.
Provavelmente como bons observadores e admiradores das forças da natureza, os japoneses sabiam que os lobos eram importantes para o equilíbrio ecológico de uma região, pois estes ajudavam a manter a população de javalis, veados e lebres sob controle, pois a superpopulação destes poderiam ser prejudiciais as lavouras. Quando um lobo era avistado os camponês lhe dirigiam a seguinte prece:
"Senhor Lobo (oinu tono), por favor nos proteja e detenha os assaltos do veado e do javali"Quando não se tinha a presença dos lobos o seu poder protetor poderia ser evocado através de amuletos em forma de lobos.
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Tudo leva a crer que foram uma serie de fatores, entre eles, a expansão da pecuária, a redução de seu habitat natural, o extermínio por parte dos humanos e a Raiva (hidrofobia).
Durante o período Meiji (1868 - 1912) foram implantados novos sistemas de produção agropecuárias, surgiram propriedades rurais no formato dos ranchos americanos, isso levou a expansão das áreas agrícolas e a diminuição do habitat natural dos lobos. Com o avanço do homem as presas naturais do lobo-japonês diminuíram levando-o a procurar alimento em outros nichos, as fazendas de gado. Por causa do ataque aos animais de fazenda o lobo-japonês, que antes era inclusive venerado, passou a ser uma ameaça a produção, fato que levou consequentemente a caçada dos homens e ao seu extermínio. Há relatos de que para o extermínio chegou-se a usar venenos como estricnina e armadilhas.
Outro fator que provavelmente arrebatou as especies foi a propagação da Raiva. A doença foi documentada nas ilhas de Kyushu e Shikoku em 1732. Por algum tempo houve relatos entre os habitantes locais de um grande numero lobos que foram encontrados mortos ou enfermos em decorrência da raiva.