Pichiciego-maior
O pichiciego-maior (Calyptophractus retusus) é a única espécie de tatu do gênero Calyptophractus. Um pouco maiores do que os pichiciegos-menores (Chlamyphorus truncatus), são encontrados na região do chaco, desde o sudeste da Bolívia, passando pelo noroeste do Paraguai, até ao extremo-norte da Argentina.
De hábitos noturnos, os pichiciegos-maiores são animais raros, sendo que pouco se conhece a respeito de seu comportamento. Eles vivem dentro de tocas em regiões de solo quente e seco, evitando aventurar-se pela superfície. São bons cavadores e podem esconder-se muito rapidamente sob o solo. Sua dieta é composta principalmente de formigas e suas larvas, mas eles também alimentam-se de caracois, minhocas, raízes e outras partes de plantas.
A espécie foi descoberta pela ciência em 1859 na Bolívia, após um morador mostrar a Hermann Burmeister os restos mumificados de um animal. Como Herrmann Burmeister não soube identificar de qual espécie se tratava, este levou os restos do espécime a diversas instituições para que pudessem ser devidamente estudados e identificados.
Com comprimento do focinho ao ventre variando de 140 mm a 175 mm e uma cauda medindo aproximadamente 35 mm, a C. retusus é pouco maior que seus parentes mais próximos, os pichiciegos-menores. A carapaça dorsal desses animais, cujas cintas ou segmentos tem coloração variando do marrom-claro ao marrom-amarelado, é mole e está firmemente ligada à pele ao longo de todo o seu corpo, sendo que a cauda é arredondada e coberta de placas. Todas as 24 cintas da carapaça movimentam-se livremente. A pelagem, que é esparsa no dorso mas densa e lanuda na parte posterior do ventre do animal, tem cor branca.
As extremidades dos membros torácicos tem garras curvadas e muito fortes, enquanto que as extremidades dos membros pélvicos tem garras afiadas, adaptadas para a escavação.
Como esta espécie é extremamente rara e nunca houve reprodução em cativeiro, o comportamento reprodutivo do Calyptophractus retusus ainda não foi estudado em detalhe. Depois da cópula, o óvulo permanece no útero da fêmea por vários meses. A exata duração do período de gestação é desconhecida, mas, por inferência, deve ser similar ao período de gestação médio das outras espécies de tatu, que é de 120 dias. Os pichiciegos-maiores dão à luz a varios filhores de cada vez, sendo que a ninhada é comumente composta de quatro filhotes. Um fato notável desta espécie é que todos os filhotes originam-se de um único óvulo, o que significa, em outras palavras, que as fêmeas dão à luz regularmente a quádruplos.
A carapaça dos recém-nascidos é mole e precisa de várias semanas para endurecer. Os filhotes de pichiciego-maior começam a caminhar logo após seu nascimento, com apenas algumas horas de vida ainda. Na maioria das espécies de tatu, os filhotes deixam de ser amamentados várias semanas após o nascimento. O período necessário aos filhotes de pichiciego-maior é, contudo, desconhecido. A maturidade sexual é atingida em média aos 12 meses de idade.
Os pichiciegos-maiores não se dão bem em cativeiro. Entre 1996 e 2006 a Calyptophractus retusus era, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), uma espécie ameaçada de extinção, com estado de conservação vulnerável, devido à destruição de seu habitat e a predação conduzida por cães domésticos. Entre 2006 e 2010 o risco de extinção da espécie era pouco preocupante, com estado de conservação quase-vulnerável. Desde 2010, contudo, a IUCN classifica o estado de conservação da espécie como dados insuficientes, pois não se conhece virtualmente nada sobre o estado populacional desta espécie.
As principais ameaças ao C. retusus são a destruição do seu habitat na região do chaco e a sua perseguição, que é ativa e baseia-se na crença de que esses animais trazem mau-agouro e são presságio de desastres. Por isso, uma redução variando de 20 a 25 % de sua população nos últimos anos é muito provável.
A presença de espécimes de pichiciego-maior foi registrada em algumas áreas protegidas na Bolívia, na reserva natural General Pizarro em Salta, na Argentina, e no parque nacional Defensores del Chaco, no Paraguai.