O condor-da-califórnia ou condor-californiano (Gymnogyps californianus) é uma ave da família Cathartidae. É nativo da América do Norte, sendo atualmente encontrado somente na região do Grand Canyon e das montanhas do oeste da Califórnia, nos Estados Unidos, e ao norte da Baixa Califórnia, no México. Apesar de outros membros fósseis serem conhecidos, é a única espécie sobrevivente do gênero Gymnogyps.
A maior parte de sua plumagem é uniformemente negra, exceção feita apenas às manchas brancas situadas na parte inferior das asas. A cabeça, desprovida de penas, normalmente possui uma tonalidade amarelada, podendo tornar-se avermelhada ou arroxeada, dependendo do humor da ave. Possui a maior envergadura dentre todas as aves da América do Norte, chegando a 3 metros, e está entre as mais pesadas do continente, variando de 8.2 -14.1 kg. É detritívora, alimentando-se de grandes quantidades de carniça. Apresenta uma das maiores expectativa de vida entre as aves, podendo ultrapassar os 50 anos.
O número de condores-da-califórnia foi drasticamente reduzido durante o século XIX, devido à caça, saturnismo e destruição de habitat. Encontra-se na lista vermelha da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) e seu status atual é "criticamente em perigo". A espécie já foi considerada extinta em estado selvagem entre 1987 e 1992.
Os condores, assim como os urubus, apesar de serem conhecidos também por abutres do novo mundo, são, segundo a nova Taxonomia de Sibley-Ahlquist, mais próximos às cegonhas do que aos abutres propriamente ditos.
O condor-da-califórnia adulto é uniformemente negro, com exceção, especialmente nos machos, de faixas brancas presentes no lado inferior das asas. Possui pernas e pés acinzentados, bico marfim, íris castanho-avermelhada e um colar de penas negras circundando a base do pescoço. A maioria dos juvenis é sarapintada de castanho-escuro, com coloração negra na cabeça e as penas da parte inferior das asas salpicadas de cinza, ao invés de branco.
Como uma adaptação para a higiene, a cabeça e o pescoço apresentam poucas penas, expondo a pele aos efeitos esterilizantes da desidratação e da radiação ultravioleta do sol em grandes altitudes. A pele da cabeça e do pescoço possui capacidade notável de se corar em resposta ao estado emocional, uma capacidade provavelmente utilizada como meio de comunicação entre indivíduos. A coloração varia do amarelado ao vermelho-alaranjado.
Contrariando a regra comum entre as aves de rapina, a fêmea é menor que o macho. Pode atingir entre 1,1 e 1,34 metros de comprimento e possuir 3 metros de envergadura, a maior dentre as aves da América do Norte. Seu peso varia entre 8.2-14.1 kg. No continente norte-americano, só perde para o cisne-trombeteiro (Cygnus buccinator) e o exótico cisne-branco (Cygnus olor), em comprimento e peso. Segundo o Guinness, um macho teria chegado a 14,1 kg, o que converteria o condor-da-califórnia na mais pesada ave de rapina do planeta, e estaria preservado na Academia de Ciências da Califórnia, em Los Angeles.
O dedo médio do pé do condor-da-califórnia é grande e alongado, e as garras são retas e não afiadas, sendo mais adaptadas para caminhar que agarrar. Esta característica está mais relacionada às cegonhas, já que outras aves rapina utilizam seus pés como arma ou como órgão preênsil.
Durante o Século XIX, o condor-da-califórnia perambulava na costa oeste e sudeste da América do Norte, desde o sul da Colúmbia Britânica até a Sierra de San Pedro Mártir, ao norte da Baixa Califórnia. Nessa época, a ave também foi encontrada em Alberta, Montana, Idaho, Utah e Arizona. Contudo, devido ao declínio populacional, o último exemplar livre na natureza foi levado ao cativeiro por um programa de reprodução em 1987.
Condores em cativeiro foram soltos no sul da Califórnia, em Baixa Califórnia e no Grand Canyon. Há dois santuários dedicados à espécie: o Sisquoc Condor Sanctuary, em San Rafael Wilderness, e Sespe Condor Sanctuary, em Los Padres National Forest. Estas áreas foram escolhidas por serem o principal sítio de nidificação do condor-da-califórnia.
O condor-da-califórnia vive em terras rochosas de vegetação rasteira, florestas de coníferas e savanas de carvalho. É frequentemente encontrado próximo a penhascos escarpados e árvores frondosas, utilizando estes locais para nidificação.
A ausência de um esterno para ancorar os músculos necessários para o voo restringe seu alcance a grandes altitudes. Realiza movimentos graciosos ao voar. A ave bate suas asas na partida, porém, ao atingir uma elevação moderada, desloca-se basicamente planando, por vezes durante milhas sem uma única batida de asas. O condor-da-califórnia pode voar até 90 km/h, a uma altura de 4600 m.
Possui grande expectativa de vida, podendo atingir 50 anos. Caso chegue à idade adulta, o condor-da-califórnia apresentará poucas ameaças naturais. Como não possui cordas vocais, sua vocalização é limitada a grunhidos e sibilos. Condores banham-se frequentemente e podem passar várias horas arrumando suas penas. Após se alimentar, limpam a cabeça e o pescoço, esfregando-os na grama, em rochas ou em ramos de árvores. Como os demais abutres do Novo Mundo, possuem o hábito de defecar e urinar sobre as patas, para se refrescar e reduzir a temperatura corporal.
O condor-da-califórnia possui uma bem desenvolvida estrutura social com outros grupos de condores, com competições para determinar a hierarquia do grupo através de linguagem corporal e uso de uma variedade de grunhidos e sibilos. Esta hierarquia social pode ser observada especialmente durante a alimentação, com as aves dominantes comendo antes das mais jovens.
Indivíduos solitários podem viajar até 250 km à procura de alimento. Como os demais membros da família Cathartidae, sua dieta consiste basicamente de carniça. Prefere principalmente as carcaças de grandes mamíferos terrestres e até mesmo de peixes. Aves e répteis raramente fazem parte de seu cardápio.
Como não possuem senso olfativo, reconhecem cadáveres pela localização de outros carniceiros, tais como urubus e águias. Normalmente conseguem afugentar outros carniceiros menores, com exceção de ursos e da águia-real (Aquila chrysaetos). Mesmo pesando quase o dobro desta última, o condor-da-califórnia geralmente espera a águia-real terminar de comer e ir embora, antes de se aproximar da carcaça, talvez temendo suas perigosas garras. Em algumas ocasiões, quando muito famintos, os condores-californianos adultos desafiam as águias-reais e as afastam das carcaças.
A competição intra-específica pode levar indivíduos da espécie a lutar e afastar uns aos outros. Há uma hierarquia de dominância baseada em tamanho, sexo e idade. Os condores macho, maiores, dominam as fêmeas independentemente de idade. Além disso, dentro de cada grupo de sexo, as aves mais velhas dominam as mais jovens.
Na vida selvagem, são comedores intermitentes, frequentemente permanecendo de alguns dias até duas semanas sem comer. Após o jejum, conseguem comer até 1,5 kg de carne de uma só vez, podendo chegar ao ponto de não conseguirem levantar voo.
Atinge a maturidade sexual aos seis anos de idade. Para atrair um parceiro, os machos realizam uma exibição, corando a cabeça em vermelho e eriçando as penas do pescoço. Então, esticam suas asas e aproximam-se da fêmea. Caso a fêmea abaixe a cabeça para aceitá-lo, eles formarão um casal para a vida toda.
O casal constrói ninhos desde a proximidade do nível do mar até uma altitude de 1.830 metros, em cavernas ou em fendas nos penhascos, especialmente os situados próximos a árvores e áreas abertas para o pouso. Em alguns locais, como na Serra Nevada, o ninho é construído em cavidades da sequóia-gigante (Sequoiadendron giganteum), a maior espécie de árvore do mundo.
A fêmea põe um único ovo branco-azulado, o qual pesa aproximadamente 280 g e mede entre 90 e 120 mm de comprimento e cerca de 67 mm de diâmetro. Se o ovo é perdido ou removido do ninho, os pais produzem um novo ovo. Pesquisadores e criadores em cativeiro da espécie tiram proveito deste comportamento, induzindo um aumento da ninhada, ao retirarem o primeiro ovo do ninho.
A incubação do ovo dura entre 53 e 60 dias e é efetuada por ambos os pais. Os filhotes já nascem com olhos abertos e podem levar até uma semana para saírem do ovo. Os juvenis são cobertos de uma plumagem cinzenta e são capazes de voar quando atingem cinco meses de idade, porém ainda permanecem junto dos pais até os dois anos. Pelo fato de os pais condores levarem mais de um ano para criar um filhote, a taxa de reprodução é extremamente baixa.
Na época do assentamento dos humanos nas Américas, o condor-da-califórnia possuía vasta distribuição na América do Norte. Neste período, a espécie podia ser encontrada no Arizona, Nevada, Novo México e Texas. Contudo, mudanças climáticas, associadas ao fim da última era glacial e à extinção da megafauna do Pleistoceno, levaram à subsequente redução do alcance e da população do condor.
Nos tempos atuais, uma ampla variedade de causas contribuiu para o declínio populacional. Seu exigente habitat de reprodução e baixas taxas de nascimento resultantes, combinados com uma tardia idade de amadurecimento sexual, tornam a espécie vulnerável à perda de população. Esta redução é atribuída também à caça ilegal, especialmente para serem utilizados como peças de museus, ao envenenamento por chumbo e por DDT, às linhas de transmissão de energia elétrica, à coleta dos ovos e à destruição de hábitat. Durante a corrida do ouro na Califórnia, exemplares de condor-da-califórnia foram capturados como animais de estimação.
Ao se alimentar de animais abatidos por projéteis de chumbo, a ave geralmente ingere o metal juntamente com a carne. O chumbo é um metal pesado extremamente tóxico, que pode afetar principalmente os sistemas digestivo, nervoso e sanguíneo, quando ingerido. É ainda um antagonista químico do cálcio nas moléculas que formam as células ósseas e nervosas. Ao longo do tempo, a quantidade de chumbo em seu corpo aumenta, pois o condor não dispõe de mecanismos naturais para eliminá-lo do corpo. Por fim, as concentrações de chumbo tornam-se tão altas que os condores morrem. Mesmo quando os poucos exemplares remanescentes eram capturados e sujeitos a hemodiálise periódica, passado pouco tempo da sua libertação já estavam outra vez envenenados.
O saturnismo provoca uma deficiência imunológica nas aves, tornando-as muito mais suscetíveis a contraírem infecções bacterianas e parasitoses. As aves afetadas manifestam graves problemas neurológicos (o que se traduz por disfunções motoras), ficando demasiado vulneráveis à predação; como tal, são esses exemplares enfermos os mais caçados e consumidos. Alguns espécimes de aves podem não ficar tão intoxicados, mas, ainda assim, padecerem de deficiências imunológicas e de diminuição da fecundidade dos ovos.
Além disso, criadores de gado observaram condores se alimentando de jovens gados mortos e acreditaram que o condor fora a causa da morte destes animais. Esta falácia levou à extinção do condor-da-califórnia em algumas partes do oeste dos Estados Unidos. Tal crença demonstrou estar fortemente enraizada quando a reintrodução do condor no Grand Canyon foi recusada por criadores de gado, os quais equivocadamente acreditavam que a ave caça bezerros e cordeiros.
Os incêndios também configuram uma ameaça à recuperação da população remanescente dos condores-da-califórnia.