Sapo-comum
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Bufo bufo

O sapo-comum ou sapo-europeu (com o nome científico Bufo spinosus, mas, por vezes ainda aparece com o nome antigo Bufo bufo) é uma espécie de sapo da família Bufonidae. Encontra-se distribuído por toda a Europa, com a excepção da Irlanda e algumas ilhas mediterrânicas. A sua área de distribuição estende-se até Irkutsk na Sibéria a este e até ao norte de África a sul, nomeadamente nas montanhas do norte de Marrocos, Argélia e Tunísia.

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Os adultos podem atingir os 18 centímetros e a sua pele tem uma aparência verrugosa. Apresentam uma cor de pele que vai desde o verde até ao castanho. Como defesa contra predadores, segregam uma substância tóxica, de sabor desagradável. Esta substância é normalmente suficiente para deter a maior parte dos predadores. Apesar de os adultos passarem a maior parte do tempo em terra, migram para charcos e outras fontes de água parada para acasalamento e para as fêmeas depositarem os ovos, que diferem dos ovos das rãs porque formam longos fios ao invés de uma massa amorfa. Os ovos são depositados na Primavera, quando as fêmeas tentam regressar ao local onde nasceram. Os girinos são semelhantes aos de outras espécies, exceptuando que a sua cabeça é maior, mais redonda e mais escura.

O sapo-comum alimenta-se de invertebrados como insetos, aranhas, lesmas e minhocas, que caçam com as suas línguas pegajosas. Os sapos caçam geralmente à noite, e são mais activos em dias húmidos. Durante a migração para os locais de reprodução, muitos sapos são atropelados nas estradas. Em alguns locais, túneis especiais são construídos por baixo das estradas de maneira a que os sapos possam passar e algumas associações organizam patrulhas para ajudá-los a atravessar estradas movimentadas carregando-os em baldes.

O sapo-comum é desde sempre associado na cultura popular e na literatura com a bruxaria e também serviu de inspiração para vários personagens na literatura.

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Na cultura

O sapo tem sido desde sempre considerado um animal de mau agouro ou uma ligação ao mundo dos espíritos. Esta ligação pode ter as suas origens pelo facto do animal usar como habitat tanto a água como a terra. Pode causar repugnância devido à sua pele escurecida e rugosa, aos seus movimentos lentos e pela forma como emerge de um buraco escuro. Na Europa, na Idade Média, o sapo era associado ao Diabo, para quem um brasão de armas foi inventado, estampado com três sapos. Era sabido que o sapo podia envenenar pessoas, e como familiar de bruxas, julgava-se que tinha poderes mágicos. Mesmo as pessoas comuns fizeram uso de sapos secos, da sua bile, das fezes e do seu sangue. Nalgumas zonas, se se encontrasse um sapo numa casa era uma prova que a casa pertencia a uma bruxa. No País Basco, acreditava-se que os familiares eram sapos com vestes elegantes. Estes eram herdados pelas crianças que estavam a ser treinados como bruxas. Entre 1610 e 1612, o inquisidor espanhol Alonso de Salazar Frías investigou bruxarias da região e revistou casas de pessoas suspeitas de serem bruxas à procura de sapos vestidos. Não encontrou nenhum. Estas bruxas tinham a fama de usar sapos não domesticados como ingredientes para as suas pomadas e fermentações.

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Um conto popular inglês conta como uma idosa, supostamente bruxa, amaldiçoou o proprietário e todos os seus bens quando ele exigiu o aluguel não pago pela sua casa de campo. Logo em seguida, um grande sapo caiu sobre a sua mulher e levou-a a entrar em colapso. O sapo foi atirado para o fogo mas escapou com várias queimaduras. Entretanto, a cabana da velha bruxa pegou fogo e esta foi gravemente queimada. No dia seguinte, tanto o sapo como a bruxa tinham morrido, e as queimaduras encontradas no corpo da bruxa eram iguais às do sapo.

A saliva do sapo era considerada venenosa e conhecida como "veneno que abafa". Acreditava-se que o sapo podia cuspir ou vomitar fogo venenoso. Os sapos era associados aos demónios e aos diabos e em Paradise Lost, John Milton descreve Satanás como um sapo, quando ele derramou veneno no ouvido de Eva. A Primeira Bruxa, em Macbeth de Shakespeare, deu instruções sobre como usar um sapo para a criação de feitiços.

Acreditava-se que dentro da cabeça do sapo havia uma jóia, a "pedra de sapo", que quando usada como colar ou anel avisava o seu proprietário de tentativas de envenenamento. Shakespeare menciona isto em As You Like It:

Sr. Sapo Esq., é um dos principais personagens no romance juvenil The Wind in the Willows, de Kenneth Grahame. Isto foi dramatizado por vários autores, incluindo A. A. Milne que chamou à sua peça Sapo da Câmara Sapo. O Sr. Sapo, é um sapo antropomórfico vaidoso, e no livro compõe uma cantiga em seu próprio louvor que começa assim:

George Orwell no seu ensaio Some Thoughts on the Common Toad (Alguns Pensamentos sobre o Sapo-Comum), descreveu o aparecimento do sapo comum da hibernação como um dos sinais mais comoventes da Primavera.

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Aparência

O sapo-comum pode alcançar os 15 cm de comprimento. As fêmeas são normalmente mais robustas que os machos e espécimes mais a sul tendem a ser maiores que os do norte. A cabeça é larga com uma boca grande abaixo do focinho terminal que tem duas pequenas narinas. Não têm dentes. Os olhos bolbosos e salientes têm íris de cor amarela ou avermelhada e pupilas com aberturas horizontais em forma de fenda. Por detrás dos olhos estão duas regiões bolbosas, as glândulas parotoides que estão posicionadas obliquamente. Contêm uma substância tóxica, bufotoxina, usada para deter potenciais predadores. A cabeça une-se ao corpo sem um pescoço visível e não têm saco vocal externo. O corpo é largo e achatado, e colocado rente ao chão. Os membros anteriores são curtos com os dedos das patas virados para dentro. Durante a época de reprodução, os machos desenvolvem almofadas nupciais nos primeiros três dedos, que usam para agarrar as fêmeas durante o acasalamento. Os membros posteriores são curtos em relação às de outras rãs e as patas posteriores têm dedos compridos e sem membrana interdigital. Não possuem cauda. A pele é seca e coberta com altos semelhantes a verrugas. A sua cor é castanho, castanho-dourado ou castanho-acinzentado, por vezes parcialmente manchado ou com bandas de cor mais escuro. O sapo-comum tende a ser sexualmente dimórfico com as fêmeas mais castanhas e os machos mais cinzentos. O ventre é branco sujo pintalgado com manchas cinzentas e pretas.

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Outras espécies com o qual o sapo-comum pode ser confundido incluem o sapo-corredor (Epidalea calamita) e o sapo-verde-europeu (Pseudepidalea virdis). Aquele é normalmente mais pequeno e possui uma banda amarela ao longo das suas costas enquanto que o último tem um padrão pintalgado característico. As glândulas parotoides de ambos são paralelas em vez de oblíquas como as do sapo-comum. A rã-comum (Rana temporaria) também é semelhante na aparência mas tem um focinho menos arredondado, pele húmida e macia e normalmente movimenta-se por saltos.

Os sapos-comuns podem viver muitos anos e sabe-se que podem sobreviver cinquenta anos em cativeiro. Na natureza, pensa-se que vivam entre dez e doze anos. A sua idade pode ser determinada contando o número de anéis de crescimento nos ossos das suas falanges.

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Vídeo

Distribuição

Geografia

O sapo-comum é o quarto anfíbio mais comum na Europa, a seguir à Rana temporaria, Pelophylax esculentus e o tritão-comum (Lissotriton vulgaris). Pode ser encontrado por todo o continente com excepção da Islândia, as regiões mais a norte da Escandinávia onde é demasiado frio, e certas ilhas mediterrânicas como Malta, Creta, Córsega, Sardenha e as Ilhas Baleares. O limite oriental da sua distribuição é em Irkutsk na Sibéria e para sul, estende-se até partes do noroeste de África nas montanhas nortenhas de Marrocos, Argélia e Tunísia. Um variante relacionado vive no Extremo Oriente, incluindo no Japão. O sapo-comum habita em locais com altitude até 2500 metros na parte sul da sua área de distribuição. Habita principalmente em áreas florestadas com coníferas, árvores de folha caduca e bosques mistos, especialmente em localidades húmidas. Também ocupa ambientes rurais abertos, campos, parques e jardins, e frequentemente ocorre em zonas secas bastante longe de águas paradas.

Sapo-comum Mapa do habitat
Sapo-comum Mapa do habitat
Sapo-comum

Hábitos e estilo de vida

O sapo-comum movimenta-se normalmente a andar lentamente ou por pequenos saltos envolvendo as quatro patas. Passa a maior parte do dia escondido em abrigos escavados sob a folhagem ou debaixo de uma raiz ou de uma pedra onde a sua coloração o torne inconspícuo. Emerge ao crepúsculo e pode mover-se certa distância no escuro enquanto caça. Está mais activo em tempo húmido. De manhã terá já regressado à sua base e pode ocupar o mesmo local durante vários meses. É voraz e come bichos-de-conta, lesmas, escaravelhos, lagartas, moscas, minhocas e até pequenos ratos. Presas pequenas e rápidas podem ser apanhadas por um chicotear da língua enquanto que itens maiores são apanhados com as mandíbulas. Não tendo dentes, engole a comida inteira numa série de goles. Não reconhece as suas presas como tal, mas antes tentará consumir qualquer objecto pequeno, escuro e em movimento que encontre à noite. Um estudo mostrou que tentam agarrar um pedaço de papel preto de 1 cm como se fosse uma presa mas que não ligaria a peças em movimento maiores. Sapos parecem usar dicas visuais para alimentação e conseguem ver as suas presas a intensidades de luz muito baixas, tão baixas que humanos não conseguiriam discernir nada a essas intensidades. Periodicamente, o sapo-comum liberta a sua pele, que sai em farrapos e é depois consumida.

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Quando atacado, o sapo-comum adopta uma posição característica, inchando o seu corpo e colocando-se em pé com as patas traseiras levantadas e a sua cabeça baixa. O seu meio principal de defesa é a secreção de sabor acre produzida pela glândulas parotoides e outras glândulas na sua pele. Esta contém uma toxina chamada bufagina e é suficiente para deter muitos predadores embora a cobra-de-água-de-colar não pareça ser afectada por ela. Outros predadores de sapos adultos incluem ouriços, ratos e visons, e mesmo gatos domésticos.Aves que se alimentam de sapos incluem garças, gralhas e aves de rapina. Gralhas já foram observadas a perfurar a pele com o seu bico e depois retirar o fígado do animal, evitando assim ingerir a toxina. Os girinos também exudam substâncias nocivas que desencorajam que peixes os comam mas que não impede o tritão-de-crista. Invertebrados aquáticos que se alimentam de girinos de sapo incluem larvas de libelinha, escaravelhos da família Dytiscidae e percevejos da família Corixidae. Estes evitam geralmente as secreções nocivas perfurando a pele dos girinos e sugando os líquidos.

Uma mosca parasita, Lucilia bufonivora, ataca sapos-comuns adultos. Deposita os seus ovos na pele do sapo e quando estes eclodem, as larvas rastejam para as narinas do sapo e comem a sua carne internamente com consequências letais. Sphaerium corneum é invulgar na medida em que trepa plantas aquáticas e se desloca no seu pé. Por vezes agarra-se ao pé de um sapo-comum e julga-se que isto será uma maneira de se dispersar para outras localidades.

Em 2007, investigadores que estavam à procura do monstro do Loch Ness, na Escócia, usando um veículo submarino operado remotamente, observaram um sapo-comum a saltar ao longo do fundo do lago a uma profundidade de 99 m. Ficaram surpreendidos por encontrar um animal que respira ar vivo a tais profundidades.

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Estilo de vida

Dieta e nutrição

Hábitos de acasalamento

O sapo-comum emerge de hibernação na Primavera e há uma migração em massa em direcção a locais de reprodução. Os sapos convergem em determinados charcos que preferem ao mesmo tempo evitando outros cursos de água que parecem em tudo adequados. Adultos usam a mesma localidade todos os anos e mais de 80% dos machos marcados enquanto juvenis foram encontrados a voltar ao mesmo charco onde desovaram. Eles encontram o seu caminho para estes principalmente usando pistas olfatórias e magnéticas. Em experiências científicas, sapos que foram transportados para outro lugar e implantados com aparelhos de localização conseguem localizar o seu charco de reprodução escolhido quando a deslocação excede três quilómetros.

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Os machos chegam primeiro e permanecem no local durante várias semanas enquanto as fêmeas apenas ficam o tempo suficiente para acasalar e desovar. Ao invés de lutarem pelo direito de acasalar com uma fêmea, sapos macho resolvem disputas pelo tom das suas vozes. O coaxar fornece uma indicação fiável do tamanho do corpo e portanto de galantaria. No entanto, lutas ocorrem em algumas ocasiões. Num estudo em um charco onde os machos ocorriam em números quatro a cinco vezes superiores às fêmeas, 38% dos machos ganhavam o direito a acasalar derrotando rivais em combate ou retirando outros machos já montados em fêmeas. Sapos macho geralmente estão em maior número que as fêmeas em charcos de reprodução. Um estudo sueco mostrou que a mortalidade das fêmeas era superior à dos machos e que 41% das fêmeas não ia ao charco de reprodução na Primavera e perdia um ano antes de se reproduzir novamente.

Os machos montam as costas das fêmeas, agarrando-as com as suas patas dianteiras em baixo das axilas num aperto conhecido como amplexo. Os machos são muito entusiásticos, e tentarão agarrar peixes ou objectos inanimados e muitas vezes montam as costas de outros machos. Por vezes vários sapos formam uma pilha, com cada um dos machos a tentar agarra a fêmea na base. É um período stressante e a mortalidade é alta entre sapos reprodutores. Um macho com sucesso permanece no amplexo por vários dias e, à medida que a fêmea deposita um fio duplo e comprido de pequenos ovos pretos, fertiliza-os com o seu esperma. O par vagueia pelos baixios do charco, encavalitados, e os fios de ovos gelatinosos, que poderá conter 3 mil a 6 mil ovos e ter um comprimento de 3 a 4,5 metros, emaranham-se nos caules das plantas.

Os fios de ovos absorvem água e incham, e pequenos girinos eclodem após duas a três semanas. A princípio, permanecem agarrados ao restos do fio e alimentam-se da gelatina. Mais tarde afixam-se à parte de baixo de folhas de vegetação aquática antes de se tornarem livres nadadores. Os girinos à primeira vista parecem semelhantes ao de Rana temporaria mas são de uma cor mais escura, sendo pretos em cima e cinzento-escuro em baixo. Podem-se distinguir de girinos de outras espécies pelo facto da boca ser da mesma largura que o espaço entre os olhos, e que esta é o dobro do tamanho da distância entre as narinas. Durante o curso de algumas semanas as suas pernas desenvolvem-se a a cauda é absorvida gradualmente. Às doze semanas de idade são sapos em miniatura medindo cerca de 1,5 cm de comprimento e estão prontos a sair do charco.

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População

Conservação

A Lista vermelha da UICN considera que o sapo-comum é uma espécie "Pouco preocupante", uma vez que tem uma distribuição alargada e é, na maior parte da sua distribuição, uma espécie comum. Não está particularmente ameaçada por perda de habitat uma vez que é adaptável e pode ser encontrada em florestas decíduas e coníferas, mato, prados, parques e jardins. Prefere áreas húmidas com folhagem densa. As maiores ameaças que enfrenta incluem perda local de habitat, drenagem de zonas húmidas onde se reproduz, actividades agrícolas, poluição e mortalidade nas estradas. Quitridiomicose, uma doença infecciosa de anfíbios, foi relatada em sapos-comuns em Espanha e no Reino Unido e pode afectar outras populações.

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Há partes da sua distribuição onde o sapo-comum parece estar em declínio. Em Espanha, aumento da aridez e perda de habitat levaram à diminuição da população e é considerada como "Quase ameaçada". Uma população na Sierra de Gredos enfrenta predação por lontras e competição da rã Rana perezi. Tanto as lontras como as rãs parecem estar a estender a sua área de distribuição até maiores altitudes. O sapo-comum não pode ser comercializado no Reino Unido mas mesmo com esta protecção há um pequeno declínio no número de sapos e foi declarado por isso uma espécie prioritária para o Plano de Acção para a Biodiversidade. Na Rússia, é considerada uma "Espécie Rara" nas províncias de Basquíria, Tartária, Okrug de Iamalo-Nenets e Irkutsk, mas durante a década de 1990, tornou-se mais abundante no Oblast de Moscovo.

Populações urbanas de sapo-comum que ocupam pequenas áreas e estão isoladas por desenvolvimento urbano mostram um nível de diversidade genética mais baixo e aptidão reduzida comparada com populações rurais próximas. Os investigadores demonstraram-no por análise genética e observando um maior número de anormalidades físicas em girinos urbanos comparados com os rurais quando criados num ambiente controlado. Foi considerado que a diminuição de números a longo prazo e fragmentação do habitat pode reduzir a persistência da população em tais ambientes urbanos.

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Coloring Pages

Referências

1. Sapo-comum artigo na Wikipédia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Sapo-comum
2. Sapo-comumno site da Lista Vermelha da IUCN - https://www.iucnredlist.org/species/54596/11159939

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