Pirajaguara
O tucuxi (Sotalia fluviatilis), também conhecido como pirajaguara, é uma espécie de golfinho de água doce existente na bacia do Amazonas. Ele é encontrado em muitas das regiões habitadas pelos botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), e, por isso, essas espécies são chamadas de simpátricas. Apesar disso, o tucuxi é geneticamente mais próximo dos golfinhos marinhos, como sua espécie-irmã, o boto-cinza (Sotalia guianensis). É o menor e o único delfinídeo (golfinho da família Delphinidae) de água doce do mundo. Pertence ao gênero Sotalia, no qual os golfinhos geralmente variam de 1,0 a 1,8 metro.
Fisicamente, a espécie se parece com Tursiops, mas é diferente o bastante para ser situada em outro gênero, Sotalia. Sotalia guianensis, que abrange golfinhos de ambientes litorâneos e de estuários, anteriormente fazia parte de Sotalia fluviatilis, mas recentemente passou a formar uma espécie própria. Provavelmente vivem de 30 a 35 anos. com registro de a fêmea mais velha conhecida ter chegado aos 43 anos, e o macho mais velho ter chegado aos 26.
Tucuxis e botos-cor-de-rosa são considerados espécies indicadoras da qualidade da água de ecossistemas amazônicos por serem predadores topo de caia, e podem ser usados como indicadoras da degradação do ecossistema. Por serem parte da categoria popular chamada de “fofofauna” (animais considerados fofos pelo amplo público, como baleias, felinos e tartarugas), os tucuxi são considerados “espécie-bandeira” e “espécie-guarda-chuva”, quando uma espécie é usada como um ícone para conscientizar a população da sua importância ambiental e sua conservação, protegendo, assim, o ecossistema em que está presente. O tucuxi e o boto-cor-de-rosa, por exemplo, conscientizam a população da importância de proteger a floresta Amazônica, principalmente seus rios.
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Animais carnívorosTanto na linguagem vernácula, como nos diferentes ramos da zoologia chamam-se carnívoros, aos animais que se alimentam predominantemente de carne...
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MalacófagoSão denominados por malacófagos os animais cuja dieta é predominantemente à base de moluscos. São uma espécie de carnívoros especializados.
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PiscívoroSão denominados por ictiófagos, ou piscívoros /ˈpɪsɪvɔər/, os animais carnívoros cuja dieta é predominantemente à base de peixes. Piscívoria...
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Começa porA espécie é semelhante aos golfinhos-nariz-de-garrafa e à sua espécie-irmã, o boto-cinza, mas costuma ser menor (1,5 metro). Os machos alcançam o comprimento de 1,4 a 1,5 metro, e as fêmeas o comprimento de 1,3 a 1,5 metro. Seu peso varia de 35 e 45 kg, com o registro máximo de e 53 kg. Já um recém-nascido nasce com 71 a 83 centímetros de comprimento e 8 kg de massa.
A coloração varia conforme a região do corpo. No dorso (as "costas"), varia entre o cinza-azulado e o cinza-amarronzado, se tornando cinza claro a branco ao descer pelas laterais do corpo e chegar ao seu ventre (a “barriga”). O ventre é bem mais claro, podendo ter um um tom rosado quando estão muito ativos, com a intensidade variando conforme a intensidade da atividade que estão realizando. Seu melão (órgão de ecolocalização localizado na cabeça) é relativamente pequeno e não se sobressai em relação ao crânio. O rostro (também chamado popularmente de "bico" ou “focinho”, composto pela maxila superior e pela mandíbula) é bem definido, comprido e fino, sendo ligeiramente mais estreito que o do boto-cinza. As extremidades da boca se curvam ligeiramente para cima, e há uma linha escuro grossa dos olhos até a nadadeira, com uma linha fina clara dentro dela, dos dois lados do corpo. Suas nadadeiras peitorais são largas. Comparado com sua espécie-irmã, o boto-cinza, a nadadeira dorsal é menor, mais triangular e larga na base, podendo ser curva na ponta.
Nos golfinhos, a contagem dos dentes é curiosa. Não se conta quantos pares de dentes tem em cada maxila (superior e inferior). Contam-se quantos dentes existem em cada metade de maxila (metade esquerda e metade direita), pois a quantidade de dentes varia de cada lado da boca. Não existem necessariamente pares de dentes. Assim, cada fileira da maxila superior (fileira esquerda e fileira direita) tem de 28 a 35 dentes, e cada fileira da maxila inferior (também chamada de mandíbula) tem de 26 a 33 dentes.
Para visualizar melhor essas informações anatômicas, além de fotos disponíveis na internet, é possível observar a ilustração do tucuxi no Guia Ilustrado de Identificação de Cetáceos e Sirênios do Brasil, disponibilizado gratuitamente pelo ICMBio / CMA (governo brasileiro).
O tucuxi ocorre no Brasil, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e também na Guiana Francesa. No Brasil, a espécie está presente nos estados do Amazonas, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia e Acre.
O tucuxi, assim como o boto-cor-de-rosa, é endêmico da Bacia do Rio Amazonas, a maior bacia hidrográfica do mundo, e da Bacia do Rio Orinoco. Juntas, essas bacias formam o maior sistema de rios do mundo. Ambas as espécies são mais recorrentes no rio Amazonas que o Orinoco, mas não se sabe a razão disso. Algumas hipóteses especulam que sua ocorrência seja limitada pelos diferentes impactos humanos e/ou pela quantidade de peixes disponíveis em cada local. As duas espécies de golfinho não nadam grandes distâncias, mantendo-se por muitos anos, possivelmente a vida inteira, nas áreas onde nasceram.
A ocorrência do tucuxi na Bacia Amazônica atravessa Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Guiana Francesa, enquanto que a ocorrência na Bacia do Rio Orinoco inclui Venezuela e Colômbia. Na Colômbia, ele é encontrado no rio Negro (até certa altura do rio, parando na altura da cidade de Barcelos), rio Putumayo e rio Caquetá, e no sistema de lagos El Correo. No Equador, nos rios Napo, Cuyabeno, Yasuni, Lagartococha e Aguarico. No Peru, nos rios Tigre, Ucayali e Marañón. E, no Brasil, nos rios Negro, Madeira, Purus, Xingú e Tapajós e no lago de Tefé. Esses são apenas os rios e lagos mais conhecidos ocupados pelo tucuxi. No entanto, avanço da espécie para outros rios ou partes dos rios citados ainda não ocupadas é bloqueado por quedas d’água e represas de hidroelétricas.
Tucuxis são facilmente observados realizando diferentes atividades, como deslocamento (natação), salto (uma atividade de socialização da espécie), alimentação, e aproximação e afastamento de embarcações. Os tucuxis formam grupos pequenos, de um a seis indivíduos em média, que nadam em formação compacta, o que sugere uma desenvolvida estrutura social. São muito ativos e podem saltar com o corpo todo para fora da água, apesar de serem uma espécie considerada tímida e não costumarem se aproximar de embarcações.
Ambas as espécies do gênero Sotalia realizam uma série de comportamentos acrobáticos, como leaps, somersaults, fluke-ups, spy-hopping, surface rolling e porpoising, que são consideradas formas de socialização. Essas espécies são consideradas sociais, apesar de que o tucuxi é mais tímido. O tucuxi realiza essas atividades aéreas especialmente durante a estação de baixa das águas. A duração do seu tempo de mergulho é curta, de 1,5 a 2 minutos, precisando subir para respirar na superfície após essa duração. Entre esses mergulhos mais longos, realizam mergulhos menores, de 5 a 10 segundos. É importante frisar que o tucuxi é um golfinho, ou seja, um mamífero, e não respira dentro d’água, precisando subir à superfície da água para respirar.
Quanto à sua capacidade visual, ela é baixa, estando abaixo da acuidade visual da maioria dos golfinhos marinhos e mamíferos terrestres. Contudo, sua acuidade é maior do que a do boto-cor-de-rosa, permitindo que apresentem comportamento visual. Sabe-se que, em cativeiro, o tucuxi pode procurar visualmente pelo seu cuidador trazendo comida e que responde a estímulos visuais usados em treinos.
Tucuxis são recorrentemente vistos junto com a única outra espécie de rio na América, o boto-cor-de-rosa. Essas espécies são simpátricas, isto é, elas compartilham o mesmo ambiente. Como ambas são botos de rio que ocorrem juntos e compartilham de diversas características (como habitat, alguns hábitos alimentares etc.), elas também compartilham fatores de risco, como doenças. Vários tópicos aqui abordado, como "Ameaças e Conservação", são igualmente válidos para o boto-cor-de-rosa, devido às semelhanças entre ambos, pois ambos são botos ou golfinhos de rio com hábitos semelhantes, e são espécies que ocorrem juntas.
Os tucuxis são mamíferos aquáticos predadores, que ajudam na manutenção das espécies de peixes que predam e a manter o fluxo de energia no ecossistema. Por serem predadores topo de cadeia (a espécie no nível mais alto da teia trófica ou cadeia trófica) sem predadores naturais, tucuxis, assim como os botos-cor-de-rosa, são considerados espécies indicadoras e podem ser usados como indicadores da degradação do ecossistema.
O tucuxi se alimenta de pelo menos 27 espécies de peixes pelágicos de 13 famílias diferentes, como os peixes dos grupos Characiformes, Clupeidae e Sciaenidae, variando de 5 a 37 centímetros de comprimento. Essas espécies de peixes vivem em lagoas, canais e rios de água rápida. O tucuxi se alimenta sozinho ou em grupo, podendo usar ou não técnicas de cooperação na caça, perseguindo os peixes logo abaixo da superfície da água.
Não há muitas informações de doenças que acometam o tucuxi. Não porque essa espécie tenha poucas doenças que a prejudiquem, mas pela falta de estudos sobre o tema. As doenças conhecidas para o tucuxi são osteomielite, pneumonia verminótica (causada por parasita), pneumonia bacteriana e síndrome de aspiração de mecônio em um recém-nascido estudado. É interessante frisar que essas doenças também foram encontradas para o boto-cor-de-rosa, espécie com a qual possui uma relação de simpatria (ver Comportamento).
Para sua espécie-irmã, o boto-cinza, foram descobertas várias doenças, como papilloviroses genitais, poxviroses de cetáceos, toxoplasmose e lobomicose. Portanto, é possível que o tucuxi seja suscetível a essas doenças, mas mais estudos são necessários.
Hemogramas, ou exames de sangue, são uma forma importante de se analisar o estado de saúde de um indivíduo, mas não há muitos estudos para o tucuxi. A necessidade de se ter os valores hematológicos básicos para esta espécie é urgente.
A quantidade de indivíduos por população variou muito, desde 2.205 indivíduos no rio Orinoco venezuelano e 1.545 indivíduos no rio Amazonas colombiano, até 19 indivíduos no Equador, somando os rios Cuyabeno, Yasuni, Lagartococha e Aguarico. Neste caso do Equador, essa é a população de golfinhos de rio mais ameaçada da América, havendo na área interesse comercial de companhias petrolíferas e derramamento periódico de óleo. Quanto à população venezuelana, apesar de não tão ameaçada, ela também sofre com contaminação por mercúrio e óleo, projetos de desenvolvimento na água (como hidroelétricas) pesca intensa e tráfego de embarcações.
Os hot spots (áreas de maior densidade e ocorrência de uma espécie) desses golfinhos foram áreas bem protegidas e gerenciadas, que podem servir como exemplo para a conservação das espécies. Elas são um atestado de que áreas preservadas são importantes para a manutenção e sobrevivência de várias espécies.