Rattus norvegicus

Rattus norvegicus

Ratazana, Rato-castanho, Guabiru, Gabiru, Rato

Reino
Filo
Subfilo
Classe
Ordem
Superfamília
Família
Género
Espécies
Rattus norvegicus
Tamanho da população
Unknown
Vida útil
2-4 years
Peso
250-350
8.8-12.3
goz
g oz 
Comprimento
20-25
7.9-9.8
cminch
cm inch 

Rattus norvegicus (Berkenhout, 1769), a ratazana ou rato-castanho, (ou ainda guabiru ou gabiru em algumas regiões do Brasil) ou simplesmente rato, é uma espécie de roedor originária do leste da Ásia (norte da China e Mongólia), mas actualmente naturalizada em quase todas as regiões povoadas do planeta, sendo a mais comum e conhecida de todas as espécie de ratos. Sendo uma das mais corpulentas espécies murinas, tem pelagem cinzento-acastanhada a acastanhada, até 25 cm de comprimento corporal e uma cauda com sensivelmente o mesmo comprimento do corpo. O macho pesa até 350 gramas, e uma ratazana fêmea, até 250 g, é considerada a espécie de mamífero com mais sucesso do planeta, após os humanos. Ocorrendo em pequenos grupos, compostos por um macho e várias fêmeas, constrói abrigos em galerias subterrâneas escavadas no solo ou no interior de condutas, cavidades e outros espaços confinados em paredes e outras estruturas construídas. A criação selectiva da espécie produziu o rato de laboratório, um organismo modelo na investigação biológica, bem como diversas raças de ratos de estimação.

Aparência

R. norvegicus é a mais corpulenta das espécies que integram o género Rattus, o mais diverso dos grupos taxonómicos de verdadeiros murídeos. Em média os espécimes pesam o dobro de um rato da espécie Rattus rattus, a outra espécie de ratazana comum em habitações humanas.

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Com pelagem áspera de coloração acastanhada a cinzenta, mais clara ou mesmo esbranquiçada na zona ventral, os animais adultos apresentam comprimento corporal entre 20 a 25 cm, a que acresce uma cauda com 18 a 25 cm de comprimento, pouco mais curta ou sensivelmente igual ao corpo. As orelhas são pequenas, a pele áspera e os pés apresentam curtas membranas interdigitais.

Os machos adultos pesam em média 350 g e as fêmeas cerca de 250 g, mas têm sido reportados indivíduos excepcionalmente grandes, com pesos de até 900-1000 g. Estes espécimes anormalmente pesados apenas ocorrem em situações excepcionais de disponibilidade de alimento e em ambiente doméstico. Descrições de ratos que atingem o tamanho de gatos são claramente exageradas ou resultam de confusão com outras espécies de roedores, nomeadamente com a nutria ou o rato-almiscarado. Na realidade, é comum que os ratos adultos que vivem sujeitos à competição intra-específica pesem menos, por vezes consideravelmente, de 300 g.

R. norvegicus é dotado de uma excelente capacidade auditiva, são sensíveis aos ultrassons e possuem um sistema olfactivo muito desenvolvido, com um olfacto sensível a uma vasta gama de cheiros. O ritmo cardíaco médio é de 300 a 400 batidas por minuto, com um ritmo respiratório de cerca de 100 ciclos por minuto. A acuidade visual dos ratos é pobre, cerca de 20/600 para os exemplares pigmentados, enquanto nos espécimes albinos, desprovidos de melanina nos olhos, é de 20/1200 com grande dispersão da luz no campo de visão. Estes animais são dicrómatos, apenas capazes de perceber as cores da mesma maneira que os humanos com daltonismo, e a sua saturação da cor pode ser bastante baixa. No entanto, a sua percepção do azul está enriquecida com receptores de radiação ultravioleta, o que lhes permite ver numa banda em que a maioria das espécies de mamíferos é cega.

A espécie tem um ciclo estral de cinco dias, com uma gestação de apenas vinte e quatro, da qual nascem geralmente oito crias. Ocorre, então, um novo ciclo cerca de dezoito horas depois do parto e outros filhotes nascem ao final do desmame da primeira ninhada, que se dá aos vinte e um dias. Os recém-nascidos abrem os olhos aos quinze ou dezasseis dias e sua maturidade sexual é atingida aos três meses de idade.

A variedade Wistar deste rato, conhecido como rato-branco-de-laboratório, é muito usado em investigação científica e em testes laboratoriais. Foram-lhe seleccionadas características recessivas, como o albinismo.

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Vídeo

Distribuição

Geografia

A distribuição natural de espécie R. norvegicus antes da sua expansão e naturalização por sinantropia não é bem conhecida, mas seguramente a expansão partiu das planícies do leste da Ásia, mais precisamente da Mongólia e do norte da China, iniciando-se em força a partir da Idade Média europeia. A determinação do período histórico a partir do qual estas ratazanas se tornaram comensais em torno das populações humanas permanece sem resposta incontroversa, mas como espécie, R. norvegicus expandiu a sua área de distribuição e estabeleceu-se ao longo das rotas de migração humana, estando naturalizada em quase todas as regiões onde se estabeleceram populações humanas.

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No que respeita à parte central e ocidental da Eurásia, a espécie pode ter já estado presente na Europa Central antes de 1553, conclusão que se pode retirar de uma ilustração e descrição publicada pelo naturalista suíço Conrad Gesner na sua obra intitulada Historiae animalium, publicada entre 1551 e 1558. Apesar da descrição de Gesner se poder aplicar igualmente à espécie Rattus rattus, o rato-negro, a sua menção de uma larga proporção de espécimes com albinismo, situação não incomum entre as populações selvagens de R. norvegicus, aumenta a credibilidade desta conclusão. Fontes confiáveis datadas do século XVIII permitem afirmar com certeza que R. norvegicus já estava presente na Irlanda em 1722, na Inglaterra em 1730, na França em 1735, na Alemanha em 1750 e na Espanha em 1800, tornando-se muito difundido durante a Revolução Industrial. A espécie não atingiu a América do Norte até 1750–1755.

À medida que a espécie se foi expandindo a partir do leste asiático, as populações de R. norvegicus tenderam a substituir as populações de R. rattus em torno das habitações humanas. A nova espécie, para além de ser mais corpulenta e mais agressiva, foi favorecida pela progressiva mudança dos edifícios, que tenderam a evoluir de estruturas em madeira com telhados de colmo para estruturas em alvenaria de pedra ou tijolo com telhados, beneficiando as ratazanas capazes de escavar tocas e de viver em buracos face àquelas, como R. rattus, melhor adaptadas à vida sobre as árvores. Para além disso, R. norvegicus é capaz de aproveitar uma maior variedade e alimentos e é mais resistente a situações climáticas extremas.

Quando a espécie se instala na ausência de populações humanas, a espécie R. norvegicus prefere ambiente úmidos, com muita disponibilidade de águas, tais como as margens dos rios e a periferia de zonas húmidas. Contudo, dado que a vasta maioria destes ratos vive actualmente em sinantropia, as suas populações preferem ambientes construídos pelos humanos onde exista água e o alimento esteja próximo, em especial as redes de esgotos domésticos, as margens de cursos de água ricas em resíduos, as lixeiras e escombreiras e ambientes similares, desde que exista água nas proximidades.

Um aforismo muitas vezes repetido diz que «existem tantos ratos nas cidades quanto pessoas», mas na realidade o número de ratos nos ambientes urbanos varia grandemente, dependendo das características da cidade, da higiene urbana e do nível de vida da sua população humana e do clima, entre outros factores. Os espécimes de R. norvegicus residentes nas cidades tendem a não vaguear extensivamente, muitas vezes permanecendo num raio de 20 m em torno do seu ninho se uma fonte de alimento adequado está disponível, mas podem explorar áreas maiores quando a disponibilidade de alimentos seja menor.

Uma das cidades onde parece ser grande a população de ratos é New York, existindo um constante debate sobre o número de roedores que nela existe, com estimativas que variam de cerca de 100 milhões a apenas 250 000. Os peritos afirmam que New York é uma cidade particularmente atractiva para ratos devido à sua infraestrutura envelhecida, elevada disponibilidade de água e altas taxas de pobreza urbana. Para além dos esgotos, os ratos encontram habitat favorável em becos ricos em lixo e em edifícios residenciais mal mantidos, locais onde há geralmente uma disponibilidade contínua e abundante de alimento.

No Reino Unido, algumas estimativas apontam para um aumento da população de ratos, com estimativas que apontam para uma população de R. norvegicus superior a 81 milhões de indivíduos. Esse número significaria que há 1,3 ratos por pessoa naquele país, sendo que as elevadas densidades populacionais de ratos no Reino Unido são atribuídas ao clima ameno, o que lhes permite taxas de sobrevivência elevadas durante os meses de inverno.

A nível mundial, as únicas zonas livres de R. norvegicus são a Antártida, algumas regiões das costas do Árctico, algumas ilhas especialmente isoladas, a Província de Alberta do Canadá, e certas áreas de conservação na Nova Zelândia.

A Antártida é um continente quase totalmente coberto pelo gelo e não tem habitantes humanos permanentes, tornando-o inabitável para os ratos. O Ártico tem invernos extremamente frios que os ratos não podem sobreviver ao ar livre, e a densidade populacional humana é extremamente baixa, o que torna difícil para os ratos viajar de um habitação para outra, apesar de terem chegado a muitas zonas costeiras entre as cargas transportados por navios. Quando uma ocasional infestação de ratos é encontrada e eliminada, os ratos são incapazes de reinfestar o local a partir de outro adjacente. Em ilhas isoladas também tem sido possível eliminar populações de ratos por causa da baixa densidade da população humana e da distância geográfica a outras populações de ratos.

Existem algumas raras experiências de manutenção de áreas livres da infestação por R. norvegicus e alguns pequenos territórios onde foi possível a sua erradicação. Os casos mais conhecidos são os seguintes:

  • A ilha Hawadax (mais conhecida por Rat Island), no Alaska, foi infestada por R. norvegicus aquando do naufrágio de um navio japonês na sua costa, ocorrido em 1780. A presença dos roedores teve um efeito devastador sobre as populações de aves nativas, em particular sobre as aves marinhas. Em 2007 foi iniciado um programa de erradicação e a ilha foi declarada livre de ratos em Junho de 2009;
  • A província de Alberta, no Canadá, é a maior área habitada livre de ratos que se conhece. Até ao presente foi possível manter sob controlo as invasões de ratos, sendo os focos de infestação eliminados através de medidas governamentais de desratização muito agressivas, que se iniciaram na década de 1950;
  • Na Nova Zelândia existem diversas zonas livres de ratos destinadas a proteger a biodiversidade através da eliminação dos efeitos dos ratos sobre a fauna e a flora nativas. Os primeiros espécimes de R. norvegicus chegaram às ilhas antes de 1800, talvez a bordo dos navios de James Cook, transformando-se numa das mais importantes ameaças à sobrevivências de muitas espécies nativas da Nova Zelândia. A introdução de programas agressivos de desratização visando a eliminação das populações de ratos levou à criação de ecossistemas livres de ratos nas ilhas e ilhéus situados ao longo das costas das ilhas. Também está em curso um programa que visa manter nas áreas protegidas um conjunto de "ilhas ecológicas" livres de ratos em espaços especialmente vedados de forma a evitar a sua entrada;
  • A ilha Campbell, uma ilha oceânica situada a sul da Nova Zelândia, era conhecida como o território com maior densidade de ratos em todo o mundo, o que levou à extinção de boa parte das populações de aves que a habitavam. Em 2001 foi lançado um programa de desratização da ilha, o qual permitiu que diversas espécies de aves recolonizassem a ilha.

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Rattus norvegicus Mapa do habitat
Rattus norvegicus Mapa do habitat
Rattus norvegicus
Public Domain Dedication (CC0)

Hábitos e estilo de vida

As ratazanas desta espécie têm comportamento noturno e são boas nadadoras, tanto na superfície como debaixo de água, e têm sido observadas escalando postes de metal redondos e afilados com vários metros de altura para alcançar dispositivos alimentadores de pássaros de jardim. Escavam com facilidade, construindo com frequência sistemas de tocas extensos e complexos. Um estudo de 2007 descobriu que estes animais possuem metacognição, uma habilidade mental antes só encontrada em humanos e em alguns outros primatas, mas uma análise mais aprofundada sugeriu que o comportamento identificado pode ter sido devido ao seguimento de princípios de simples condicionamento operante.

Comportamento sazonal

Dieta e nutrição

Hábitos de acasalamento

Comportamento de acasalamento

População

Ameaças à população

Tal como acontece com outras espécies de roedores, R. norvegicus são transportadores e podem agir como vectores de um elevado número de patógenos, incluindo vários que podem causar doença em humanos, como a leptospirose, a estreptobacilose (a febre da mordedura do rato), a criptosporidiose, a febre hemorrágica viral, a febre Q e o síndrome pulmonar por hantavírus.

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No Reino Unido, as ratazanas da espécie R. norvegicus são um importante reservatório de Coxiella burnetii, a bactéria que causa a febre Q, com a seroprevalência para esta bactéria a atingir 53% dos indivíduos em algumas populações de ratos.

A espécie pode também servir de reservatório para Toxoplasma gondii, o parasita que causa toxoplasmose em humanos, apesar da doença ser normalmente apenas transmitida dos ratos para os humanos quando gatos domésticos ingerem espécimes de R. norvegicus infectados. Este parasita apresenta sinais de uma longa coevolução com R. norvegicus, existindo evidências de que o parasita evoluiu no sentido de alterar a percepção que os ratos infectados têm dos gatos, reduzindo o medo e a tendência de fuga, tornando-os mais susceptíveis à predação e aumentando assim a probabilidade de transmissão do parasita do rato para o gato.

Os resultados de estudos feitos em populações e espécimes isolados de R. norvegicus em todo o mundo têm demonstrado que esta espécie está muitas vezes associada a surtos de triquinose, mas a prevalência da transmissão pelos ratos de larvas de Trichinella para os humanos e outros animais sinantrópicos parece ser pequena. Trichinella pseudospiralis, um parasita anteriormente não considerado como um potencial patógeno em humanos ou animais domésticos, foi descoberto como sendo patogénico para os humanos, sendo transportado e transmitido pelos ratos.

As populações de R. norvegicus são por vezes erroneamente consideradas como o principal reservatório da peste bubônica, a provável causa da Peste Negra da Idade Média europeia. Contudo, a bactéria responsável por esta doença, Yersinia pestis, está em geral presente apenas em algumas espécies de roedores e é geralmente transmitida zoonoticamente pela pulga-do-rato (Xenopsylla cheopis, o vector primário da peste bubónica, e Nosopsyllus fasciatus, um vector menor). As espécie de roedores cujas populações presentemente mais frequentemente agem como reservatório incluem as espécies dos géneros Spermophilus (esquilos-terrestes) e Neotoma (ratos do campo). Contudo, as ratazanas da espécie R. norvegicus podem adoecer com a peste, e através das pulgas transmiti-la, tal como várias espécies de mamíferos não roedores, incluindo cães, gatos e humanos. O portador original das pulgas infectadas com a peste que se julga ter sido a causa da Peste Negra foi o rato-negro (Rattus rattus), e tem sido defendida a tese que a redução nas populações de R. rattus causada pela introdução na Europa de R. norvegicus levou a uma redução na prevalência de peste bubónica entre as populações europeias. Contudo essa teoria tem vindo a ser abandonada, pois as datas dessas alterações na população de ratos não parecem coincidir com o aumento e decréscimo dos surtos de peste.

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Coloring Pages

Referências

1. Rattus norvegicus artigo na Wikipédia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Rattus_norvegicus
2. Rattus norvegicusno site da Lista Vermelha da IUCN - http://www.iucnredlist.org/details/19353/0

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