Melro-preto
Reino
Filo
Classe
Família
Género
Espécies
Turdus merula
Tamanho da população
162-492 Mlnlnn
Vida útil
2.4-21 years
Peso
80-125
2.8-4.4
goz
g oz 
Comprimento
23.5-29
9.3-11.4
cminch
cm inch 
Envergadura
34-38
13.4-15
cminch
cm inch 

O melro-preto (Turdus merula), vulgarmente conhecido apenas como melro ou mérula, é uma ave pertencente ao género Turdus. Ocorre naturalmente na Europa, Norte de África, Médio Oriente, Ásia Meridional e Ásia Oriental, e foi introduzida na Austrália e Nova Zelândia na segunda metade do século XIX. Dependendo da latitude, pode ser residente, migratória ou parcialmente migratória. A espécie tem numerosas subespécies na sua vasta área de distribuição, algumas das quais são consideradas espécies distintas por alguns autores.

Mostrar mais

O melro-preto é omnívoro, consumindo uma grande variedade de insetos, vermes, bagas e drupas. Apresenta um forte dimorfismo sexual; o macho adulto da subespécie nominal T. m. merula é completamente preto, com exceção do bico e do anel orbital de cor amarela, e tem um vasto repertório de vocalizações, enquanto que a fêmea adulta e os juvenis são predominantemente de cor castanha. Esta espécie nidifica em bosques e jardins, construindo ninhos em forma de taça com ervas e lama em trepadeiras ou arbustos, e pode ser encontrada tanto em florestas como em campo aberto e zonas urbanas. Ambos os sexos exibem um comportamento territorial nos locais de nidificação, cada qual com comportamentos agressivos distintos, mas é mais gregário durante as migrações e nas áreas onde inverna. Tanto os machos como as fêmeas podem permanecer no seu território durante todo o ano desde que o clima seja suficientemente temperado e haja alimento disponível durante o inverno.

Apesar de poderem ocorrer flutuações locais nas populações devido a ameaças específicas, possui uma grande área de distribuição geográfica e uma grande população global, pelo que não se considera que se encontre globalmente ameaçada. Existem numerosas referências literárias e culturais ao melro-preto, frequentemente relacionadas com o canto melodioso dos machos. O melro-preto é a ave nacional da Suécia.

Mostrar menos

Aparência

A subespécie nominal T. m. merula tem 23,5–29 cm de comprimento, uma envergadura de 34–38 cm e um peso de 80-125 g, dependendo do sexo e das estações do ano. O macho adulto possui plumagem totalmente negra e lustrosa, patas de tamanho médio castanho-escuras, bico curto amarelo-alaranjado e um anel orbital amarelo. O bico e o anel orbital tendem a escurecer um pouco no inverno. A fêmea adulta possui plumagem castanha, ventre malhado de castanho-claro, garganta e peito com malhas esbranquiçadas, patas castanho-escuras, bico amarelo-acastanhado e um anel orbital castanho. Os juvenis são semelhantes às fêmeas, mas possuem manchas pálidas na parte superior do corpo. Os tons de castanho da plumagem dos juvenis varia de indivíduo para indivíduo, sendo os mais escuros presumivelmente machos. A plumagem juvenil dura até à primeira muda, que ocorre entre agosto e outubro. Os jovens machos adquirem então uma plumagem semelhante à dos adultos, mas o seu bico é mais escuro, o anel orbital amarelo é mais esbatido e as asas quando dobradas são castanho-escuras. Os machos só adquirem a aparência adulta ao fim do primeiro ano de vida.

Mostrar mais

Na Europa, os machos podem ser confundidos com o melro-de-peito-branco (Turdus torquatus), mas este último possui um crescente branco no peito e as asas são ligeiramente prateadas, e são superficialmente semelhantes ao estorninho-comum (Sturnus vulgaris). No Sri Lanka, a subespécie T. m. kinsii é semelhante a uma espécie local, o Myophonus blighi, e ao tordo-unicolor (Turdus unicolor), nativo do subcontinente indiano. No entanto, o primeiro apresenta sempre azul na sua plumagem, e o segundo possui o ventre mais pálido. As fêmeas podem ser confundidas com o tordo-comum (Turdus philomelos), mas este último possui a parte inferior do corpo mais pálida e com malhas negras. Existem ainda algumas espécies do género Turdus, de aparência similar ao melro-preto, mas que vivem fora da sua área de distribuição geográfica, como por exemplo o Turdus chiguanco da América do Sul.

Mostrar menos

Vídeo

Distribuição

Geografia

Comum em zonas arborizadas na maioria da sua área de distribuição, o melro-preto tem preferência por florestas de folha caduca com vegetação rasteira densa, podendo também ser encontrado em zonas arbustivas, campos de cultivo, jardins ou parques, mesmo em zonas urbanas. Os jardins fornecem os melhores locais de nidificação, acomodando até 7,3 pares / ha, tendo as zonas arborizadas geralmente um décimo dessa densidade e os campos abertos ou demasiado urbanizados ainda menos. Tipicamente, esta espécie pode ser encontrada até aos 1 000 m de altitude na Europa, 2 300 m no Norte de África e 900–1 800 m na Índia e no Sri Lanka, mas a subespécie de montanha T. m. maximus, residente nos Himalaias, nidifica entre os 3 200 e os 4 800 m, nunca descendo abaixo dos 2 100 m mesmo durante o inverno. Na Europa, é frequentemente substituída pelo melro-de-peito-branco (Turdus torquatus) nas zonas de maior altitude.

Melro-preto Mapa do habitat
Melro-preto Mapa do habitat
Melro-preto
Public Domain Dedication (CC0)

Hábitos e estilo de vida

Os jovens machos da espécie nominal podem começar a cantar no fim de janeiro, desde que haja bom tempo, com o objetivo de estabelecer um território, sendo seguidos pelos machos adultos no fim de março. O canto do macho é um gorjeio aflautado grave, melodioso e variado, frequentemente terminando com sons menos puros e por vezes um pouco arranhados. É dado a partir de árvores, telhados ou outros poleiros elevados, normalmente entre março e junho, mas por vezes até ao início de julho. Um estudo britânico mostra que o canto dura mais tempo se o macho estiver em boa forma física, e se a fêmea estiver num período de fertilidade máxima. O macho pode cantar a qualquer hora do dia, mas é ao amanhecer e ao anoitecer que o canto é mais intenso.

Mostrar mais

O melro-preto possui ainda várias outras vocalizações, incluindo um sriiii agressivo, um pouk-pouk-pouk de alarme para predadores terrestres como gatos, e numerosas vocalizações de tchink e tchouk-tchouk. Tal como outros pássaros, possui também um sriiiiii agudo de alarme para aves de rapina, pois o som é rapidamente atenuado pela vegetação, tornando a fonte difícil de detetar. Os machos territoriais invariavelmente emitem um tchink-tchink ao anoitecer numa tentativa (normalmente infrutífera) de dissuadir outros machos de procurarem poleiros para passar a noite no seu território.

Pelo menos duas das suas subespécies, T. m. merula e T. m. nigropileus, são capazes de imitar outras espécies de aves, gatos, humanos ou alarmes, mas isso é geralmente discreto e difícil de detetar. As grandes subespécies de montanha, especialmente a T. m. maximus, possuem canções relativamente pobres, com um repertório limitado quando comparado com as subespécies ocidentais, indianas e do Sri Lanka.

O melro-preto nidifica nas zonas temperadas da Eurásia, no Norte de África, em algumas ilhas atlânticas (Açores, Madeira, Canárias) e na Ásia Meridional, e foi introduzido na Austrália e Nova Zelândia. Dependendo da latitude, esta espécie pode ser residente, migratória ou parcialmente migratória. As populações são residentes no sul e no oeste da sua área de distribuição, mas as aves do norte migram para sul até ao Norte de África e às zonas tropicais da Ásia durante o inverno. Os machos provenientes de zonas urbanas são mais propensos a invernar em climas mais frios do que machos provenientes de zonas rurais, uma adaptação tornada possível pelo microclima mais quente e pela maior abundância de alimento nas cidades, que permite às aves estabelecer territórios e iniciar o acasalamento mais cedo.

Desde que haja alimento disponível durante o inverno, tanto os machos como as fêmeas permanecerão no seu território durante todo o ano, embora ocupando zonas diferentes. Durante a migração os melros-pretos são mais sociáveis, viajando em pequenos bandos, geralmente de noite, e alimentando-se em grupos dispersos nos locais onde inverna. O voo de migração, que consiste de uma série de rápidas batidas de asa intercaladas com movimentos de planagem horizontal ou mergulhos, difere tanto do normal voo rápido e ágil desta espécie como dos mergulhos acentuados típicos de outros grandes turdídeos.

Como seria de esperar para uma espécie migratória tão amplamente distribuída, já foi observada fora da sua área de distribuição habitual na Eurásia, como no arquipélago de Svalbard, na ilha de Jan Mayen e no Japão. Os registos de aves observadas na América do Norte são normalmente atribuídos a aves fugidas ao cativeiro, como por exemplo a ave observada no Quebec em 1971; no entanto, uma ave observada em 1994 em Bonavista, Terra Nova, Canadá, foi aceite como uma ave genuinamente selvagem, pelo que a espécie consta da lista de aves da América do Norte da American Ornithologists' Union.

Mostrar menos
Comportamento sazonal
Canto do pássaro

Dieta e nutrição

O melro-preto é omnívoro, consumindo uma grande variedade de insetos, vermes, bagas e drupas. A caça é predominante, sendo particularmente importante durante a época de nidificação, com as bagas e as drupas a serem mais consumidas durante o outono e o inverno. Alimenta-se sobretudo no solo, correndo e pulando, progredindo aos trancos e barrancos, com a cabeça inclinada para um dos lados. Caça principalmente com a visão mas também pode usar a audição, pesquisando o húmus em busca de minhocas e fazendo-as sair das suas tocas com o bico, e revirando folhas em decomposição de forma barulhenta e demonstrativa em busca de outros invertebrados. Ocasionalmente, pode ainda caçar pequenos vertebrados como girinos e pequenos sapos ou lagartos.

Mostrar mais

Apesar de se alimentar sobretudo no solo, esta espécie também se empoleira em arbustos para recolher bagas e drupas, e apanhar lagartas e outros insetos. O tipo de drupas consumidas depende do que estiver disponível localmente, e frequentemente inclui espécies exóticas presentes em jardins ou pomares. Na Europa temperada, alimenta-se de bagas de alfeneiro, de sabugueiro e de várias espécies dos géneros Hippophae, Cornus e Rubus, entre outras. Durante o inverno, fazem parte da sua dieta bagas de azevinho, de hera e de várias espécies dos géneros Crataegus, Viscum e Sorbus. Mais a sul, podem também alimentar-se de bagas de murta e de espécies do género Celtis, de azeitonas e de uvas. No norte da Índia, os frutos da figueira-de-bengala (Ficus benghalensis) e de várias espécies do género Morus são frequentemente consumidos, com as sementes de espécies do género Erythrina e bagas de espécies do género Trema a fazerem parte do seu regime mais a sul.

Tal como outros melros e tordos, esta espécie regurgita pequenas bolas contendo as sementes após a partes moles terem sido digeridas.

Mostrar menos

Hábitos de acasalamento

Comportamento de acasalamento

A subespécie nominal T. m. merula pode iniciar o acasalamento em março, mas as subespécies orientais e indianas começam pelo menos um mês mais tarde, e as aves introduzidas na Austrália e na Nova Zelândia apenas em Agosto. O melro-preto macho atrai a fêmea com uma exibição de corte, que consiste de corridas oblíquas combinadas com vénias, o bico aberto e uma canção grave "estrangulada". A fêmea permanece imóvel até levantar a cabeça e a cauda para permitir a cópula.

Mostrar mais

O casal procura então um local adequado para o ninho numa trepadeira ou arbusto, geralmente a cerca de 2 m do solo, dando preferência a espécies espinhosas ou de folha persistente como a hera, o azevinho e espécies dos géneros Crataegus, Lonicera e Pyracantha, embora o ninho possa também ser instalado na forquilha de um galho de árvore. Embora o macho possa ajudar na construção do ninho, principalmente no transporte de materiais de construção, é a fêmea que constrói sozinha um ninho em forma de taça com ervas ou pequenos galhos, geralmente forrado com lama. Cada postura possui habitualmente três a cinco (normalmente quatro) ovos verde-azulados salpicados com pequenas manchas vermelho-acastanhadas, sobretudo do lado mais largo. As posturas em zonas arborizadas tendem a ter maior número de ovos do que em zonas urbanas. Os ovos da subespécie nominal têm um tamanho médio de 2,9 x 2,1 cm e um peso médio de 7,2 g, dos quais 6% correspondem à casca; os ovos das subespécies residentes no sul da Índia são mais claros do que os das restantes subespécies.

A incubação é feita unicamente pela fêmea e dura geralmente de 12 a 14 dias. As crias recém-eclodidas são altriciais, necessitando de 10 a 19 dias (em média 13,6) para abandonar o ninho, com ambos os progenitores a participar na sua alimentação e na remoção dos sacos fecais. O peso ganho pelas crias durante os primeiros oito dias de vida é fundamental para a sua sobrevivência, pois crias que não alcancem os 35-45 g durante esse período têm poucas hipóteses de sobreviver. As crias não sabem voar quando abandonam o ninho, rastejando/saltando para fora deste e batendo as asas até chegar ao solo, e procurando cobertura na vegetação próxima. Se o ninho for perturbado, podem abandoná-lo nove dias apenas após a eclosão, uma importante adaptação contra eventuais predadores. Os progenitores continuam a alimentar os juvenis, que seguem os adultos implorando por comida, até três semanas após estes abandonarem o ninho. Se a fêmea começar a construir outro ninho, o macho alimentará os juvenis sozinho. Durante esse período eles aprendem a escolher os seus alimentos, e uma semana após abandonarem o ninho já são capazes de voar. Ao fim de três semanas os juvenis são independentes, e abandonam voluntariamente o território do progenitor pouco depois apesar deste não os afugentar, atingindo o estado adulto ao fim de ano de vida.

Segundas ninhadas são comuns, com o mesmo ninho sendo utilizando para a segunda ninhada se a primeira foi bem-sucedida, sendo possíveis até cinco ninhadas por estação se as condições atmosféricas forem excecionalmente boas.

A subespécie asiática de montanha T. m. maximus têm uma época de nidificação mais curta, e apenas produz uma ninhada por ano. A fêmea também põe menos ovos (dois a quatro, em média 2,86), mas de maiores dimensões do que os da subespécie nominal, e enquanto o período de incubação é ligeiramente mais curto (12 a 13 dias), as crias necessitam de mais tempo (16 a 18 dias) para abandonar o ninho.

A perda de ovos durante a incubação e a taxa de mortalidade entre as crias são consideráveis, pelo que apenas são produzidos juvenis em 30-40% das ninhadas, e embora as posturas em zonas urbanas tendam a ter um menor número de ovos, produzem mais juvenis por ninho do que nas zonas rurais. A taxa de sobrevivência entre os juvenis é de 56% durante o primeiro ano de vida e de 65% para os adultos. Embora haja registos de indivíduos com mais de 21 anos de idade, a esperança média de vida de um melro-preto adulto é de 5 anos.

Geralmente, os casais são fiéis e permanecem juntos enquanto ambos sobreviverem, mas são observadas taxas de separação na ordem dos 20% na sequência de uma época de nidificação com baixa taxa de sucesso, e existem estudos que mostram que até 17% das crias não pertencem ao seu suposto pai, tornando esta espécie geneticamente poligâmica apesar de socialmente monogâmica.

Mostrar menos

População

Ameaças à população

Na União Europeia, a caça ao melro-preto é regulamentada pela Diretiva 79/409/CEE do Conselho, de 2 de abril de 1979, relativa à conservação das aves selvagens, sendo permitida em diversos países incluindo a França e Portugal. Em França, o Office National de la Chasse et de la Faune Sauvage (Gabinete Oficial da Caça e da Fauna Selvagem) estima que entre 1998 e 1999 tenham sido abatidas cerca de 985 000 aves desta espécie em todo o país. O melro-preto pode ser caçado a tiro ou capturado vivo com uma varinha enviscada (pequeno ramo revestido com cola) para servir de chamariz. Este último método, utilizado nos departamentos dos Alpes da Alta Provença, Alpes Marítimos, Bocas do Ródano, Var e Vaucluse, é regulamentado por decreto ministerial e sujeito a autorização por parte da prefeitura.

Coloring Pages

Referências

1. Melro-preto artigo na Wikipédia - https://pt.wikipedia.org/wiki/Melro-preto
2. Melro-pretono site da Lista Vermelha da IUCN - http://www.iucnredlist.org/details/103888106/0
3. Canto do pássaro - https://xeno-canto.org/707743

Animais mais fascinantes para aprender