A andorinha-dos-beirais ou andorinho-dos-beirais (Delichon urbicum) é uma pequena ave migratória pertencente à família das andorinhas (Hirundinidae), estival na Europa (exceto Islândia), norte de África e regiões temperadas da Ásia, e invernal na África subsariana e Ásia tropical. Existem duas subespécies geográficas de andorinha-dos-beirais aceites.
Alimenta-se exclusivamente de insetos, que captura em pleno voo, pelo que migra para climas com abundância de insetos voadores. Ambos os sexos possuem a cabeça e a parte superior do corpo preto-azuladas, contrastando com o branco do uropígio e da parte inferior do corpo. Pode ser encontrada tanto em campo aberto como em zonas habitadas pelo homem. Constrói ninhos fechados em forma de taça com lama e palha sob os beirais dos edifícios ou locais semelhantes, normalmente em colónias. A sua proximidade ao homem é de forma geral tolerada devido aos seus hábitos insetívoros, conduzindo a diversas referências literárias e culturais.
Apesar de se encontrar em declínio na Europa, possui uma grande área de distribuição geográfica e uma grande população global, pelo que não se considera que se encontre globalmente ameaçada.
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Começa porA subespécie nominal D. u. urbicum tem 12-13 cm de comprimento, uma envergadura de 26-29 cm e um peso médio de 18,3 g. A cabeça e a parte superior do corpo são preto-azuladas, enquanto que a cauda curta bifurcada e a parte superior das asas são pretas, contrastando com o branco do uropígio e da parte inferior do corpo e das asas; as patas curtas têm cor rosa e estão cobertas com uma penugem branca. Tem olhos castanhos, um bico pequeno, fino e preto, e uma cauda curta bifurcada, sem guias caudais. Não existem diferenças assinaláveis entre os dois sexos, mas os juvenis são pretos e algumas das suas tectrizes e rémiges têm as pontas e a orla brancas. A subespécie D. u. meridionale é menor do que a subespécie nominal, enquanto que a subespécie D. u. lagopodum se distingue da espécie nominal pelo uropígio branco, que se estende ao longo da cauda, e pela menor profundidade da bifurcação da cauda.
A espécie mais similar à andorinha-dos-beirais é a andorinha-de-bando, mas esta possui a parte inferior do corpo mais sombria, com uma cauda mais curta e menos bifurcada. A confusão mais comum ocorre entre os machos adultos da andorinha-de-bando, que possuem a parte inferior do corpo mais clara, e a subespécie D. u. lagopodum, cuja bifurcação da cauda se encontra entre a da D. u. urbicum e da andorinha-de-bando. A Delichon nipalense distingue-se da andorinha-dos-beirais pelo seu queixo negro, suas coberteiras negras e cauda mais quadrada. O uropígio e da parte inferior do corpo totalmente brancos, claramente visíveis em voo, distinguem a andorinha-dos-beirais das outras espécies de andorinhas paleárticas, tais como a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), a andorinha-das-barreiras (Riparia riparia) e a andorinha-dáurica (Cecropis daurica). Em África, pode ser confundida com a andorinha-de-rabadilha-cinzenta (Pseudhirundo griseopyga), mas essa espécie tem uropígio cinzento, parte inferior de cor creme e uma longa cauda bifurcada.
A andorinha-dos-beirais é uma espécie ruidosa, especialmente nas suas colónias. O canto do macho, ouvido durante todo o ano, é um chilreio suave de chirps melodiosos. O chamado de contacto, também ouvido durante a invernagem, é um chirrrp áspero; e a vocalização de alarme, um tseep agudo.
Recorrendo a radares para seguir as aves em voo durante a época de migração, um estudo suíço estimou que a velocidade média de batimento das asas da andorinha-dos-beirais em voo é de 5,3–6,0 batimentos por segundo, ligeiramente superior à da andorinha-das-chaminés, estimada em 4,4–5,4 batimentos por segundo, mas que a velocidade média em voo das duas espécies é semelhante (11–14,5 m/s).
A subespécie D. u. urbicum nidifica ao longo da Eurásia temperada até à Mongólia central e ao rio Ienissei, em Marrocos, na Tunísia e no norte da Argélia; e inverna na África subsariana. A D. u. lagopodum nidifica para oriente do rio Ienissei até Kolyma e para sul até ao norte da Mongólia e da China; e passa o inverna no sul da China e Sudeste asiático.
Os seus habitats preferidos são campos abertos com vegetação baixa, tais como prados, pastos e campos de cultivo, de preferência junto à água. No entanto, também pode ser encontrada em montanhas pelo menos até aos 2 200 m de altitude, e é muito mais urbana do que a andorinha-das-chaminés, nidificando mesmo no centro das cidades, desde que o ar seja suficientemente limpo. De todas as andorinhas eurasiáticas, a andorinha-dos-beirais é a mais facilmente encontrada junto a árvores, uma vez que estas proporcionam alimento (insetos) e locais para pernoitar. Ao contrário da andorinha-das-chaminés, geralmente não utiliza canaviais como dormitórios comunais durante a migração.
Durante o inverno utiliza habitats semelhantes mas é menos conspícua do que a andorinha-das-chaminés, revelando uma tendência para voar mais alto e a ter um comportamento mais nómada. Nas zonas tropicais, como a África oriental e a Tailândia, é encontrada sobretudo nas zonas mais altas.
A andorinha-dos-beirais é uma ave migratória que se movimenta numa frente larga, o que significa que as rotas de migração das aves que nidificam na Europa não afunilam nas zonas de travessia mais curta do mar, como os estreitos de Gibraltar e do Bósforo, mas cruzam todo o Mediterrâneo e o Saara. Durante a migração geralmente viaja durante o dia, embora algumas aves o possam fazer de noite.
As migrações não são livres de perigo; em 1974, várias centenas de milhares de aves desta espécie foram encontradas mortas ou moribundas nos Alpes suíços e arredores, surpreendidas por fortes nevões e baixas temperaturas. O principal fator que influencia a taxa de sobrevivência dos adultos durante a migração no outono é a temperatura, seguido da precipitação. Para os juvenis, é mais crítica a ocorrência de baixas temperaturas durante a época de nidificação. Devido às alterações climáticas é previsível que a ocorrência de condições atmosféricas extremas se torne cada vez mais frequente, pelo que as taxas de sobrevivência futuras vão estar mais dependentes de condições meteorológicas adversas do que no presente.
A andorinha-dos-beirais regressa às suas áreas de reprodução alguns dias após a andorinha-das-chaminés, e tal como essa espécie raramente segue diretamente para as zonas de nidificação, preferindo procurar alimento sobre grandes corpos de água doce, sobretudo quando as condições atmosféricas são fracas.
Existem registos de exemplares desta espécie que nidificaram na Namíbia e na África do Sul em vez de regressarem ao norte. Como seria de esperar para uma espécie migradora que percorre tão grandes distâncias, já foi observada tanto a oriente (no Alasca) como a ocidente (na Terra Nova, Bermudas e Açores) da sua área de nidificação habitual.
A andorinha-dos-beirais é uma ave insetívora e captura os insetos de que se alimenta em pleno voo, à semelhança de outras andorinhas e dos andorinhões. As moscas e os afídios são a base da sua dieta nas áreas de nidificação, e na Europa esta espécie consome mais destes insetos do que a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Para além desses, também os insetos da ordem Hymenoptera, em especial as formigas voadoras, são uma importante fonte de alimento nos locais onde inverna. Pequenos odonatos, lepidópteros, ortópteros ou aranhas podem também complementar a sua dieta.
Durante a época de reprodução esta espécie caça a uma altura média de 21 m, mas a alturas menores com tempo húmido, tipicamente a menos de 450 m de distância do ninho. Prefere caçar em campo aberto ou sobre a água, sobretudo quando as condições atmosféricas são fracas, mas também segue arados ou animais de grande dimensão em busca de insetos postos a descoberto. Nos locais onde inverna, caça a alturas superiores aos 50 m.
Originalmente, a andorinha-dos-beirais construía os seus ninhos em falésias e cavernas. Ainda são encontradas algumas colónias em falésias, com o ninho construído sob uma rocha saliente, mas atualmente esta espécie usa sobretudo estruturas feitas pelo homem, como edifícios e pontes, de preferência junto à água. Ao contrário da andorinha-das-chaminés, usa a parte exterior de edifícios abandonados em vez do interior de estábulos ou celeiros. Os ninhos são construídos na junção da parede com o beiral, ficando assim fortalecidos pela ligação a dois planos distintos. A andorinha-dos-beirais é mais gregária do que a andorinha-das-chaminés, estando habituada a viver e a migrar em bando, e tende a nidificar em colónias numerosas. Os ninhos podem inclusive ser construídos em contacto uns com os outros. Tipicamente, estas colónias têm menos de dez ninhos, mas há registos de colónias com milhares de ninhos.
As aves regressam à Europa para nidificar entre abril e maio, e a construção dos ninhos ocorre entre o fim de março (no norte de África) e o meio de junho (na Lapónia). O ninho tem a forma de uma taça fechada com uma abertura estreita no topo e é feito com pedaços de lama colados com saliva, e forrado com palha, ervas, penas ou outros materiais macios. A lama, adicionada em camadas sucessivas, é recolhida de lagoas, riachos ou poças. A construção demora entre 10-18 dias e é levada a cabo tanto pelo pela fêmea como pelo macho. Uma vez concluído o ninho, as aves mostram-se ameaçadoras ou agressivas, e os combates entre os machos podem ser particularmente violentos. Frequentemente, o pardal-doméstico (Passer domesticus) ocupa o ninho durante a sua construção, forçando a andorinha-dos-beirais a construir um novo. No entanto, a abertura no topo do ninho completo é tão pequena que os pardais não conseguem ocupá-lo uma vez concluído.
Após um curta parada nupcial, o par acasala no ninho. Cada postura possui habitualmente quatro ou cinco ovos brancos, com um tamanho médio de 1,9 x 1,33 cm e um peso médio de 1,7 g. A incubação dura geralmente de 14 a 16 dias, e é feita essencialmente pela fêmea. As crias recém-eclodidas são altriciais e necessitam de 22 a 32 dias, dependendo das condições atmosféricas, para abandonar o ninho. Os progenitores continuam a alimentar os juvenis durante cerca de uma semana após estes saírem o ninho. Ocasionalmente, aves da primeira ninhada ajudam os progenitores a alimentar a segunda ninhada. Existem normalmente duas ninhadas por ano. O mesmo ninho é utilizando para a segunda ninhada, e será reparado e usado novamente nos anos seguintes. Terceiras ninhadas não são incomuns, mas as crias nascidas tardiamente são muitas vezes abandonadas pelos progenitores. Nas semanas seguintes a abandonarem o ninho, os juvenis juntam-se em grandes bandos que podem ser vistos empoleirados em árvores e beirais, ou em cabos elétricos suspensos com andorinhas-das-chaminés.
O sucesso da incubação é de 90% e a taxa de sobrevivência entre as crias ronda os 60-80%. A taxa de mortalidade entre os adultos que nidificam no paleártico ocidental é de 40-60%, com a maioria das mortes a ocorrer fora da época de reprodução. Um estudo britânico aponta uma taxa média de sobrevivência entre os adultos no período 1994/2004 de 37%, mas variando anualmente entre os 25% e os 70%. Segundo o mesmo estudo, a precipitação é um fator importante na sobrevivência dos adultos quando ocorre nas zonas de invernagem africanas, mas tem um efeito muito reduzido quando ocorre nas zonas de nidificação. Embora haja registos de indivíduos com dez e quatorze anos de idade, a maioria sobrevive menos de cinco anos. A maioria dos indivíduos abandona as suas áreas de nidificação na Europa ocidental e central até ao final de outubro, mas não é incomum observar aves que adiam a sua partida até meados de dezembro, e mais para sul a migração termina mais tarde.
Os casais desta espécie ficam juntos para toda a vida, mas as cópulas extra-par são comuns, tornando esta espécie geneticamente poligâmica apesar de socialmente monogâmica. Um estudo escocês mostrou que 15% das crias não pertenciam ao seu suposto pai, e que 32% das ninhadas continham pelo menos uma cria de um pai diferente. Machos oriundos de outros ninhos, sobretudo daqueles em que a postura já havia ocorrido, eram frequentemente observados a entrar noutros ninhos. Inicialmente, o macho garantia que a sua fêmea passava o mínimo de tempo sozinha no ninho e acompanhava-a sempre durante os seus voos, mas relaxava a vigilância depois do início da postura, pelo que a cria mais nova da ninhada tinha uma maior probabilidade de ter um pai diferente.
O nascimento de híbridos interespecíficos com a andorinha-das-chaminés ocorre regularmente, sendo o mais comum cruzamento interespecífico entre passeriformes. A frequência com que ocorre este híbrido conduziu a sugestões de que o género Delichon não é suficientemente afastado em termos genéticos do género Hirundo para ser considerado um género separado.